Devocional em Juízes 19

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Devocional em Juízes 19 – 24/04/2025

Se você achava que Juízes já tinha mostrado toda a decadência possível, prepare o coração: o capítulo 19 é uma das passagens mais sombrias de toda a Bíblia. Não é só pesado — é um retrato vívido do que acontece quando uma sociedade abandona completamente a Palavra de Deus. O texto é chocante, mas necessário. Ele mostra a podridão moral, a falta de liderança piedosa e o caos que se instala quando cada um vive como quer. Vamos caminhar com sobriedade por esse capítulo.

“Naqueles dias, não havia rei em Israel.” Essa frase já se repetiu algumas vezes em Juízes e prepara o leitor pra mais um episódio de confusão. Sem liderança, sem referência, sem temor de Deus — o povo está à deriva.

Logo depois, conhecemos um levita que vivia nos montes de Efraim e que toma para si uma concubina de Belém de Judá. A palavra “concubina” já denuncia um problema: ela não era esposa plena, mas uma espécie de “esposa secundária”. Isso mostra um desvio do plano de Deus para o casamento.

A concubina acaba saindo de casa e voltando para a casa do pai. O levita vai atrás dela pra trazê-la de volta. Até aqui, parece uma tentativa de reconciliação, mas logo a narrativa toma rumos perturbadores.

Quando o levita chega à casa do sogro, é recebido com hospitalidade exagerada. O sogro insiste que ele fique mais um dia, depois mais outro… e assim vai. O tempo todo eles estão comendo, bebendo, e se divertindo como se a vida fosse só prazer. O texto dá a entender que o levita cede facilmente a esse estilo de vida descompromissado. Não há pressa, não há senso de missão, não há temor.

Depois de vários dias, o levita parte com sua concubina. Já era tarde, e o servo que o acompanhava sugere parar em Jebus (Jerusalém), mas o levita rejeita porque a cidade era habitada por jebuseus. Ele prefere ir pra Gibeá, uma cidade supostamente israelita — “do povo de Deus”.

Só que ao chegar lá… ninguém os acolhe. Ninguém. A tal “irmandade” do povo de Deus não passa de fachada. Quem finalmente os recebe é um velho estrangeiro — mais uma ironia no texto.

À noite, homens da cidade cercam a casa do velho e exigem ter relações sexuais com o levita. A cena lembra diretamente Gênesis 19 (Sodoma), e isso é intencional. A cidade de Israel está tão corrompida quanto Sodoma.

Em vez de se levantar pra proteger sua casa e sua concubina, o levita entrega a mulher aos agressores. Eles a violentam a noite toda, e ela morre. Simples assim. O silêncio do levita durante todo esse episódio é ensurdecedor. Ele não faz nada.

De manhã, ele sai pra “continuar a viagem”, como se tudo fosse normal. A mulher está caída à porta. E ao encontrá-la, ele simplesmente diz: “Levanta-te, vamos.” Ela não responde — está morta.

Então vem a cena mais chocante: ele corta o corpo da mulher em doze partes e as envia às doze tribos de Israel. É grotesco, é absurdo — mas tem uma função: acordar a nação. Ele transforma o corpo da mulher em um grito de alerta nacional. O capítulo termina com todos os que recebem esse “mensageiro fúnebre” horrorizados e dizendo: “Tal coisa nunca aconteceu em Israel!”

Juízes 19 é uma denúncia brutal da apostasia. O povo que era pra ser luz pras nações está vivendo como Sodoma. A liderança espiritual (o levita) está corrompida, apática, covarde. O senso de justiça, de dignidade humana, de santidade — tudo foi pro ralo. A concubina é tratada como objeto, como moeda de troca, como escudo humano. E isso nos confronta: quando o povo de Deus abandona a aliança, tudo se corrompe — da liderança ao lar, da justiça ao culto.

Essa história nos lembra que sem a Palavra de Deus guiando nossos passos, caímos num abismo sem fundo. Quando cada um faz o que acha certo, como diz o refrão desse livro, o resultado é dor, destruição e desumanização.

Esse capítulo nos obriga a encarar a feiura do pecado sem maquiagem. Mostra o preço da idolatria e da negligência espiritual. É um espelho para nossa geração, onde vidas são descartadas, onde o prazer fala mais alto que a verdade, onde a religião vira performance e não compromisso. Que nunca nos acostumemos com o pecado. Que nunca tratemos vidas humanas como ferramentas descartáveis. E que nunca percamos o temor do Senhor — porque quando Ele deixa de ser o centro, o inferno começa a se espalhar na terra.

Oração

Senhor, esse texto nos envergonha, nos entristece, nos confronta. Ele mostra onde podemos chegar quando te deixamos de lado. Tem misericórdia de nós, Pai. Livra-nos de um coração frio, apático e cúmplice do mal. Dá-nos coragem pra viver a Tua verdade e denunciar a injustiça, mesmo que isso custe caro. Que nossas famílias, igrejas e comunidades não se tornem lugares de violência, mas refúgios de graça. Renova em nós o temor ao Teu nome e a alegria da Tua presença. Em nome de Jesus, oramos. Amém.

Pr Marcello Amorim

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